Quer agarrar a vida com o mesmo vigor
Com que segura os livros que lhe alimentam a existência.
Perde-se em cada virar de página
E reencontra-se sempre que
A contracapa dá lugar um novo título.
A luz reflete nas paredes
Agora brancas.
Quando a dor espreita, ela abre as janelas de par em par
E a energia ionizante desfragmenta
O que antes lhe corroía as entranhas.
Para trás ficaram as paredes manchadas pela humidade
Condensada em fungos de mágoa
A janela que viu correr mais lágrimas do que chuva
O eco dos uivos desumanos
Que as paredes teimavam em revibrar.
Nos destroços deixou o sofá
Onde se aninhava como um animal abandonado
Quando a dor gelada, pontiaguda
Penetrava no corpo exausto
Que não sentia.
Nas malas só couberam as lembranças
Dos momentos de ternura e felicidade
O resto ficou nos escombros do pátio cinzento.
Abre lentamente as recordações encaixotadas
E escolhe o lugar exato para as poisar.
Quando acorda enquadra na retina
O que preenche o novo espaço
Certa que tudo será assim um dia:
Poisado num lugar iluminado
Mesmo que a chuva não cesse do lado de fora.
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