Seguíamos pela estrada estreita que rasgava a montanha entre arcos
singulares. Percorremos o mesmo caminho duas vezes procurando um dos muitos
miradouros que nos enchiam a retina. Na verdade, não procurávamos apenas mais
um, procurávamos o ponto mais alto da ilha.
As indicações eram escassas, subimos e descemos o percurso de carro. Parámos junto a uma subida íngreme que nos propusemos a desafiar. Seguimos pelo
estreito e raro espaço que não estava ocupado pela vegetação ou pequenas flores
coloridas. Seguimos com o impulso da vontade que nos mantinha hirtas as pernas
exaustas.
Paravas, como é hábito teu, para atentar em pormenores que sempre me
escapam. Ias colecionando pequenas pedras vulcânicas, as que mais atraíam o teu
olhar. Seguias destemido subindo o caminho que depois descemos com o auxílio de
uma lanterna. Eu, como sempre, hesitava entre seguir os teus passos ou abrir
caminho para tu protegeres os meus.
Rias a cada “Ai” que eu deixava escorregar quando a areia agreste
fugia dos meus pés. Sempre te riste e me fizeste rir da minha maneira
desajeitada de subir ou descer, das minhas paragens súbitas ou dos meus avanços
em aceleração brusca.
Os últimos 300 metros foram os mais difíceis, não havia mais espaço
arenoso por entre os vários registos rochosos de atividade vulcânica.
Inclinei-me numa tentativa de equilibrar o centro de massa do corpo com o ângulo
formado pela força gravítica. De novo, o teu riso contagiante e eu disse-te: - não
me desconcentres.
Chegámos ao cume. Senti a atividade sísmica, não a que outrora originou
aquele espaço, aquela que palpitava dentro de mim propagando ondas desde o
coração até às extremidades do meu corpo.
Ergui-me. Respirámos fundo ao mesmo tempo. Abraçamo-nos e ouvimos o
eco do nosso riso. Milésimos de segundo depois, a minha vista alcançou a
finitude do verde que dava lugar ao azul brilhante, o mais brilhante que alguma
vez vira. De repente, todos os meus sentidos se misturaram, se confundiram, tal
como se misturavam as cores de águas e campos verdes com a as cores floridas
que decoravam a ilha. Os meus sentidos confundiram-se tal como se confundiu céu
e mar no horizonte. Naquele instante senti-me plena.
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