Hoje 8 de março, Dia
Internacional da Mulher, escrevo a pensar em ti Sara. Adoro a tua eloquência
espontânea quando falas em igualdade entre mulheres e homens. Surpreendeste-me
quando, ainda muito pequena, começaste a utilizar argumentos tão genuínos e
puros para descrever o teu conceito de igualdade. És uma menina verdadeiramente
feminista, uma menina que não se resigna perante desigualdades.
Um dia vais ter a paciência e a
curiosidade necessárias para ouvir as histórias que levaram Clara Ztekin, em
1910, a propor que no mês de março fosse celebrado um dia pelas lutas feministas.
Agora quero falar-te sobre o
presente e sobre tudo o que podes fazer pelo futuro. A tua determinação e a tua
vontade de ir mais além, bem como a tua curiosidade e a sede de saber mais, são
características que te tornam mais forte. Infelizmente a força não retira o
espaço à vulnerabilidade e à exposição que confrontos maiores te podem trazer.
É necessário resistir muitas e muitas vezes, Sara! Observa os tempos que
vivemos. No que à igualdade diz respeito vivemos um grande retrocesso, ouvimos
chefes de estado e representantes políticos dizerem verdadeiras alarvidades
sobre a Mulher, as conquistas conseguidas não são estanques e muitas vezes
sentimo-las ameaçadas. E, minha pequena, não penses que a ameaça está no sexo
oposto. Há muitos homens que lutam para que o mundo seja menos desigual, tal
como há muitas mulheres que agridem quem defende os seus direitos. Na sociedade
existe o conceito generalizado que divide, estupidamente, o mundo entre nós e
eles. Não deixes que esse conceito te absorva o pensamento, o “nós” é o todo, é
a humanidade em geral.
Porque adoras as ciências e a
descoberta deixa-me falar-te de Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um
prémio nobel. A única a ganhar dois. Ela enfrentou diversas adversidades,
começou por acreditar na emancipação do seu país e mais tarde conseguiu uma
outra emancipação maior: a da mulher na ciência. Sabias que foi a primeira
mulher a dar aulas na universidade Sorbonne? E quando o fez houve quem ironizasse dizendo “em
breve as mulheres ainda se vão tornar seres humanos”!!! Participou em
manifestações feministas, descobriu elementos químicos que revolucionaram o
mundo, terapias para o cancro, salvou muitas vidas durante a primeira guerra, (...).
Apesar de toda esta importância ainda hoje existe muita polémica em torno das
suas descobertas e, sobretudo, sobre a sua vida. Porque é aí, na nossa vida
privada, nos nossos sentimentos, que os fracos incidem. Foi assim com Marie
Curie. Ela ousou derrubar a inventada supremacia do homem e por isso foi
humilhada publicamente. Mas não foi vencida porque lutou por tudo o que
acreditava.
Sabes que muita coisa ainda tem
de ser feita pela igualdade de género e muito mais pela igualdade geral mas nunca
deixes que te anulem. A igualdade só é conseguida quando se respeita a
diferença. Tu és diferente, és única. Compreenderás melhor essa mágica diferença
quando estudares evolução, genética, (…) mas não deixes que o conceito
científico se instale para explicar tudo. Existe um conceito inventado nos
tempos mais perigosos da História que se chama “Darwinismo social”, este serve para
justificar o desprezo por outros. O que nos torna verdadeiramente únicos não
são os genes mas sim o pensamento e as emoções. A tarefa mais árdua para a
mulher é fazer respeitar as suas emoções. Quando chorares, quando te irritares,
quando eloquentemente defenderes as tuas ideias ouviras alguém dizer “coisas de
mulheres”. Não, não há coisas de mulheres e coisas de homens! O que te faz
emocionar são as Tuas coisas, são os Teus pensamentos. Daí resultam as Tuas
escolhas, como mulher, como ser humano.
O que conseguires será fruto das
tuas conquistas e não da benevolência de outros. É por isso que tens de
defender tanto a igualdade como o direito à diferença, essa defesa passa por
resistires e, sobretudo, por sentires. É nas emoções que os nossos sonhos
ganham força, Sara, e só podemos conquistar aquilo que sonhamos. Foi assim que
outras mulheres, que hoje recordamos, conquistaram tanto e será assim que se conquistará
tanto mais.
A ti e às duas outras
meninas-mulheres da minha vida peço que sonhem, sonhem muito por todos os
marços que hão-de vir.
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