segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Ninho



Tento escrever-te desde que soube que estavas dentro de mim mas a emoção bloqueia-me e dificulta a coordenação das ideias. Tu existes, já formaste todos os teus membros, todos os órgãos e apuras agora os teus sentidos. Tu existes… eu sinto-te dentro de mim e tudo me parece ainda um sonho, um milagre. O maior milagre de todos: gerar uma Vida.


Há uma citação atribuída a Einstein que diz mais ou menos o seguinte “Há duas formas para viver a vida: Uma é acreditar que não existem milagres. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.” Vou querer falar-te de Einstein, bem como da teoria da Evolução de Darwin, e explicar-te porque é que para mim tudo é um milagre. Tudo resulta de um conjunto probabilístico maravilhoso que nos permite habitar este planeta.

Quis a probabilidade que eu e o teu pai gerássemos uma nova Vida, a comunhão mais perfeita da nossa genética, a maior concretização do nosso Amor. 


Neste momento tens 28 semanas (e eu 31 de gestação). Soube-te dentro de mim quando tinhas 5 semanas (7 de gestação). Acordei o teu pai em verdadeiro estado de êxtase, com o resultado positivo do teste na mão. Gargalhei enquanto as lágrimas me corriam pela cara, a alegria transbordava pelos meus poros. A magia iluminou a casa. Mas de seguida um medo aterrador invadiu-me, temia que algo não estivesse bem. Dois dias depois já estávamos a ouvir o ritmo acelerado do teu pequeníssimo coração. Foi esse pulsar que marcou o ritmo desta viagem, a melhor de todas as viagens que idealizámos juntos. 

Tenho tanto para te dizer… Quero falar-te dos medos que me invadem todos os dias, das incertezas, serei eu capaz de ser mãe?! Uma mãe como o Amor que sinto por ti exige? Sei que não sou uma mãe perfeita, que nunca o serei mas prometo ser exigente comigo mesma. Não quero ser uma mãe medíocre nem um elemento passivo na tua vida.


Poderia contar-te como começou a tua história, sobre o relacionamento com o teu pai, os muitos erros que cometemos e as muitas coisas das quais me arrependo. Ou então maravilhar-te com o relato das concretizações de sonhos e momentos únicos que nos permitimos. No entanto, prefiro falar-te do pai admirável que tens, do companheiro da minha vida, da pessoa que te mima agora com refeições cuidadas e carícias. Já deves perceber a sua essência generosa e meiga e é muito bonito observar a tua relação com ele. Desde que comecei a sentir os teus movimentos que tu e ele comunicam todos os dias. Basta ele colocar a mão na minha barriga para te começares a mexer e a manifestar. O carinho transmitido da forma mais pura possível!


A tua personalidade começa a formar-se dentro de mim. Os teus movimentos são uma rede cristalina que me vai ensinando a lidar contigo. Já cuidas de mim, já me ensinaste como me devo alimentar, alertaste-me para o excesso de stress e correria dos dias. Foste dura na mensagem, ameaças sair mais cedo se eu não descansar. Tu sabes o quanto eu adoro ter-te dentro de mim! Tu sabes como isso me faz sentir capaz de te proteger do mundo exterior mas acima de tudo quero-te saudável. Por tudo isto não deixo que o tédio se instale e contorne a minha força de vontade. Vou fazer de tudo para manter o nosso cordão umbilical vivo o máximo de tempo possível.


Na minha mente os dois hemisférios foram tomados por duas emoções contraditórias. Num lado está a vontade de te ter sempre cá dentro, agasalhada e nutrida pelo meu corpo. No outro a ansiedade de te segurar nos meus braços, de ver a tua cara, as tuas expressões, segurar as tuas mãos. Esta dualidade traz-me uma sensação de saudade aterradora, a saudade do que ainda não tive e do que vou deixar de ter.

Tudo o que vivi até agora foi absolutamente maravilhoso e os medos quando me invadem servem para mostrar a coragem que guardo dentro de mim.


Gostava também de te mostrar a alegria dos teus primos. Eles esperam ansiosamente por ti e fazem planos sobre o que te querem ensinar e os momentos que vão passar contigo. Dos teus tios que já te enchem de presentes, dos teus avós que se emocionam ao ouvir falar de ti. Dos teus tios emprestados que partilham da nossa felicidade. Todos te esperam ansiosamente.

Infelizmente nunca te vou conseguir mostrar o quanto a tua avó paterna ansiava por ti. Sei que ela iria chorar muito de felicidade quando te pegasse ao colo e imagino-a a dizer “tu não aprendas a fugir como o teu pai!”. De seguida iria contar-te as muitas histórias traquinas de quando ele era criança. Sei que farás várias perguntas sobre ela e nós vamos responder a todas sem exceção.


Serás alvo de vários amores, de todos estes que te enumero e de outras pessoas que se vão cruzar contigo, mas o maior amor de todos é o que eu e o teu pai nutrimos por ti. Sei que vais duvidar muitas vezes desta afirmação quando te sentires incompreendida mas espero conseguir demonstrar-te a sua veracidade. Nunca imaginei sentir algo desta dimensão. Um Amor que dispensa apresentações, um amor que não faz exigências, nem coloca nada em prova. É isso que sinto por ti minha filha, um amor absolutamente incondicional, muito maior do que as descargas de ocitocina que as minhas glândulas possam segregar.


Obrigada por tanto que já me deste! Espero fazer-te bem…

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