domingo, 6 de novembro de 2022

Escalar ou aterrar de paraquedas?

Quando em 2015 criei a Ombros de Gigante construí num projeto um molde que pretendia dar forma a vários sonhos. Encontrei o meu espaço como trabalhadora, onde me sinto segura e realizada. Onde me reconheço competente e com um apetite insaciável de melhoria contínua.

Divulgar ou partilhar conteúdos científicos é sobretudo uma tentativa de melhorar a sociedade. Compreender o mundo torna-nos pessoas mais humildes, dá-nos uma visão de fragilidade e ao mesmo tempo de igualdade. Questionar o que nos rodeia dá-nos ferramentas de proteção contra as imposições e os dogmas.

Encontrei neste trabalho uma forma pura de intervenção social. E mais do que qualquer teoria de sucesso escolar ou promessas de futuros prodigiosos há uma valorização das crianças e dos alunos crucial neste trabalho. De cada vez que entrei numa sala de aula ou participei numa ação, partilhei instantes de felicidade com os mais novos.
Aprender de uma forma lúdica ajuda a compreender conceitos, aparentemente difíceis, em etapas de ensino mais precoces. Dar hipótese de questionar, criar, observar, experimentar e explorar dá autonomia e confiança aos alunos. Poder fazê-lo através de ferramentas que fogem às barreiras do ensino convencional é uma forma de valorizar o sistema e não de o descredibilizar ou substituir.

Mas sempre soube que chegar aos Ombros de Gigantes representa uma difícil escalada para a maioria e uma divertida descida de paraquedas para alguns. Não no sentido de diferença de capacidades cognitivas ou de aprendizagem, mas na desigualdade de oportunidades. Numa social desigual os pontos de partida obrigam a percursos mais difíceis ou permitem caminhos facilitados.

E foi nesta barreira de desigualdade que a Ombros de Gigante travou. A total falta de apoios, a escassez das verbas obrigou-me a repensar o meu trabalho.

E eis que me surge a oportunidade de ingressar num Centro de Ciência Viva, onde encontrei uma filosofia de trabalho muito próxima do que defendo, onde me senti feliz e enquadrada mas onde me deparei com outras dificuldades de equilíbrio familiar e de remuneração. Optei pela mudança para outro Centro de Ciência Viva, assumindo as consequências de voltar à precariedade. Nesta rede tenho encontrado qualidade e um patamar de oportunidades incomparável. Mas o que parecia ser uma solução para o meu percurso profissional apresenta-se ao mesmo tempo como um estrangulamento. Um estrangulamento porque neste trabalho não existe uma carreira regulamentada.

A Ciência Viva é pautada por princípios nobres e o lema de "Ciência para todos" enquadra tudo aquilo em que acredito na área de divulgação. Mas esse patamar nunca será possível enquanto na base do trabalho que é desenvolvido estão trabalhadores sem vínculo, falsos recibos verdes ou trabalhadores qualificados muito mal remunerados.

O sistema de ensino e a sociedade em geral podem beneficiar muito dos acordos entre o governo e a Rede de Centros de Ciência Viva. A criação dos clubes, as diversas exposições a nível nacional, as atividades de excelência que são desenvolvidas nos Centros são veículos promissores. No entanto, para que o trabalho seja efetivo, contínuo e de qualidade é necessário cuidar da base que o executa e desenvolve.
 

Precisamos encontrar um enquadramento para a carreira de divulgador de ciência. Tal como precisamos de uma união entre os trabalhadores que o desenvolvem.

Neste percurso encontrei profissionais muito dedicados e apaixonados e não vou desistir de encontrar a valorização do seu/nosso trabalho. Por uma sociedade mais informada, mais inclusiva e mais justa.

Teoria da Dor Relativa

  Pensei a dor como relativa S omada ou subtraída A aumentar ou diminuir Os valores inerciais iniciais. Ouvi falar de uma constante. Certa q...