quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Rebento


Brota frágil o caule
Da terra que o germinou.
Há-de ser árvore,
ter tronco forte e ramos altos.
Envergonhadas as primeiras folhas surgem
E a terra lembra o repentino rasgo que
Libertou de si a semente transformada.
Terá doído?
Doem-lhe certamente os dias de tempestade
Em que a chuva violenta e o vento turbulento
Põem à prova a pequena planta.

Lembra as primeiras raízes
Que só ela sentia
E os olhares da vida
Que as viam como um único ser.
Terá saudades?
Ou espera ansiosa
o florir de cada primavera?

Irá observar feliz
O aconchego dos ninhos
nos ramos seguros e generosos.
Não está só neste atentar
Sente do sol o olhar radiante
e juntos contemplam
um imenso sorriso
verdejante.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Turbulência


Não consigo deixar de contemplar o mar sem me lembrar do Sr. Palomar de Ítalo Calvino. Tal como ele, insisto na tentativa falhada de fixar o meu olhar numa só onda, seguir-lhe o percurso até à meta da rebentação. Mas a esplêndida complexidade do mar não me permite, perco o olhar na espuma que se mistura com outras ondas, onde as ligações de hidrogénio se reforçam ou se quebram. Perco o rumo da visão e a orientação do pensamento.

Por vezes penso-me uma imensa massa de água, sacudida por ventos fortes. Na minha mente as ideias ganham densidade, misturam-se, ligam-se de forma mais ou menos complexa e por vezes chegam à costa sem que eu lhes sigam a rebentação. Tento organizar-me, tento seguir um pensamento de cada vez, dar-lhe forma, concretizá-lo mas logo surge uma outra onda que se atravessa. Assim, ziguezagueiam as minhas vontades até se afundarem nas dúvidas. É por esta complexidade abstrata que me guio e é nela que me perco.

Um dia vais questionar sobre o que me faz viver nesta constante inquietação. Talvez me perguntes se o meu Amor por ti não é suficiente para trazer calmaria a este mar revolto. Vou dizer-te que o meu amor por ti é maior do que todos os oceanos, do que toda a matéria do espaço. Que é precisamente este amor, impossível de quantificar, que soma inquietude à ansiedade.

Tento viver todos os dias para não te falhar, para te suprir as necessidades básicas, para te garantir um futuro digno. Ao mesmo tempo que te seguro nos braços e te aconchego para adormeceres num sono tranquilo, quero lutar para te oferecer um mundo melhor. Tento ser concreta, objetiva, mas falho. Deixo-me levar pelo histerismo deste mundo frenético, deixo-me deprimir pelas notícias macabras que nos chegam.

Travo uma luta interna constante para me compreender. Travo lutas políticas a cada dia, em cada opinião ou pensamento que emito, já antes travei lutas partidárias, fiz greves, organizei manifestações… mas falhei! Falhei, filha, e o resultado é um mundo profundamente desigual para te receber. Temo falhar-te mais ainda, temo não ser capaz de te dar o que mais precisas. Temo afogar-me nesta massa de água revolta e não ser capaz de te fazer feliz. 

Aprendi com o teu avô que, pelos filhos, é possível resistir às mais adversas dificuldades e que, por eles, não há limites para o humanamente possível. Mas não sei se aqueles olhos verdes acinzentados do teu avô alguma vez tentaram contemplar o mar em busca de alguma serenidade de pensamento. Talvez ele nunca tenha precisado dessa busca mas a mim falta-me a sua firmeza e a sua força inesgotável. E quando me dou conta o meu pensamento é de novo uma tempestade onde as ondas rebentam violentamente juntas.   

Teoria da Dor Relativa

  Pensei a dor como relativa S omada ou subtraída A aumentar ou diminuir Os valores inerciais iniciais. Ouvi falar de uma constante. Certa q...