quinta-feira, 12 de maio de 2016

Luz



Quer agarrar a vida com o mesmo vigor

Com que segura os livros que lhe alimentam a existência.

Perde-se em cada virar de página

E reencontra-se sempre que

A contracapa dá lugar um novo título.



A luz reflete nas paredes

Agora brancas.

Quando a dor espreita, ela abre as janelas de par em par

E a energia ionizante desfragmenta

O que antes lhe corroía as entranhas.



Para trás ficaram as paredes manchadas pela humidade

Condensada em fungos de mágoa

A janela que viu correr mais lágrimas do que chuva

O eco dos uivos desumanos

Que as paredes teimavam em revibrar.



Nos destroços deixou o sofá

Onde se aninhava como um animal abandonado

Quando a dor gelada, pontiaguda

Penetrava no corpo exausto

Que não sentia.



Nas malas só couberam as lembranças

Dos momentos de ternura e felicidade

O resto ficou nos escombros do pátio cinzento.

Abre lentamente as recordações encaixotadas

E escolhe o lugar exato para as poisar.

 

Quando acorda enquadra na retina

O que preenche o novo espaço

Certa que tudo será assim um dia:

Poisado num lugar iluminado

Mesmo que a chuva não cesse do lado de fora.


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